Água da torneira é potável, mas paulistas buscam filtros e purificadores

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A venda de filtros e purificadores de água no país aumentou 21% nos últimos três anos, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Filtros, Purificadores, Bebedouros e Equipamentos para Tratamento de Água (Abrafipa). O comércio de água mineral saltou de 1,5 bilhão de litros em 1995 para 6,2 bilhões de litros em 2006 – ou cerca de 313%. Os números são o reflexo da desconfiança dos consumidores em relação à água que sai das torneiras, apesar de a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) garantir que ela pode ser ingerida sem sustos.

De um lado dessa “batalha” estão as empresas de filtros e purificadores. Elas pregam a necessidade dos equipamentos nas casas para garantir a qualidade da água. O principal argumento é que os produtos químicos usados no tratamento podem prejudicar a saúde. Do outro lado está a Sabesp, que diz tomar todos os cuidados necessários para que a água que chega aos consumidores possa ser ingerida sem a necessidade dos filtros.

Confiança

O advogado André Gualtieri de Oliveira, de 27 anos, pagou R$ 165 há cerca de três meses por um filtro. Ele optou pelo equipamento porque avaliou que gastava muito com a compra de água mineral. Oliveira diz que nunca cogitou tomar água direto da torneira. “A gente sempre usou filtro, não tenho essa confiança toda no estado”, afirmou.

Mas quem trabalha diretamente com o tratamento da água garante que ela é própria para ser consumida, sem necessidade de purificadores. “A água é tratada para ser ingerida. Se não fosse assim, não precisava ter cloro e flúor. Dá dó quando a água está sendo usada para lavar carro e piso, porque ela é feita para consumo humano”, afirma Érika Martins de Andrade, gerente do Departamento de Controle de Qualidade da Sabesp.

O presidente da Abrafipa, Moacyr Domingues, defende a necessidade de filtros e purificadores. “Os produtos químicos que as empresas colocam são para tirar germes e bactérias. O que pode acontecer é ela chegar a sua residência com excesso de produtos. Se você tomar uma água desta, vai prejudicar a saúde”, afirma.

O clínico geral Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), defende a qualidade da água que chega às residências. “A água que a gente toma é tratada, passa por vários processos e recebe o cloro que mata os agentes infectantes. A água que vem da torneira é potável, você pode tomar. Os filtros que são usados servem para tirar a sujeira, o que não precisa”, diz.

O geólogo Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam), preferiu não participar da polêmica. “É muito deselegante dizer que nosso produto é melhor do que o outro”, justificou. A procura aumentou, segundo ele, por causa da preocupação com a saúde. “O crescimento do consumo é diretamente proporcional à cultura de um povo, por causa da segurança alimentar”, diz. A indústria de água mineral espera que o consumo alcance 6,7 bilhões de litros este ano.

 

Análise da qualidade

A Sabesp é obrigada por lei a fazer o controle na água distribuída nas 368 cidades atendidas pela empresa. Cerca de 45 mil amostras são recolhidas no estado durante todo o mês e analisadas em 15 laboratórios. A água precisa seguir um padrão de potabilidade estabelecido pela portaria 518 do Ministério da Saúde, de 25 de março de 2004.

Os resultados dos seis parâmetros principais – cor, turbidez, cloro, flúor, coliformes totais e coliformes termotolerantes – são divulgados na conta de água. De acordo com Érika Andrade, a partir do próximo ano a Sabesp irá mudar o sistema de divulgação das análises. Hoje, o consumidor tem acesso a uma média dos resultados dos parâmetros em toda a cidade. “A divulgação será por sistema de abastecimento e trará a quantidade de ensaios realizados e quantos deram conforme [dentro da lei]”, adianta.

 

No relatório de agosto, divulgado no site da empresa, a água de São Paulo estava dentro de todos os parâmetros estabelecidos pela lei. Osasco, Franscico Morato e Franco da Rocha também ficaram dentro do ideal. Por outro lado, a água do município de Peruíbe, a 130 km de São Paulo, registrou uma quantidade não permitida de coliformes fecais.

 

Procurada pelo G1, a Sabesp informou que “a ocorrência de agosto referente ao coliforme total de Peruíbe foi ocasionada pela quebra da bomba dosadora da Estação de Tratamento de Água Guaraú. O abastecimento foi interrompido e a água, descartada. Após providências de restabelecimento do sistema, foi realizada nova coleta de amostra no mesmo ponto e foi verificado que a água estava em conformidade com o padrão.”

Cuidados

A qualidade da água é garantida pela empresa até o cavalete, que fica junto ao hidrômetro. “Não existe a necessidade do equipamento [filtro] com a seguinte observação: as operadoras garantem a qualidade até o ponto de entrega, que é o cavalete. Depois, depende de o consumidor fazer a manutenção na caixa d’água”, diz Érika de Andrade.

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O químico Caetano Mautone, que trabalha há 33 anos na Sabesp, explica a importância de limpar a caixa d’água a cada seis meses e mantê-la tampada para evitar a entrada de sujeira. “A água sai com seguro daqui, que é o cloro. Aplicamos um pouco mais para que a água chegue à casa do consumidor e ele fique ali [na caixa d’água]. Se você deixar passar de seis meses, o cloro não vai ter força para eliminar as bactérias que estão ali”, diz.

Em relação ao cloro, Mautone garante que, na quantidade que é usado na água, ele não faz mal à saúde. “É um produto químico inofensivo nas concentrações que a gente usa. Ele só não é inofensivo para as bactérias”, afirma. O médico da Unifesp Paulo Olzon confirma esta afirmação. “Não tem comprovação que ele possa causar problemas a longo prazo”, diz.

O encanamento e a caixa d´água foram outros motivos que levaram o advogado André Gualtieri de Oliveira a investir em um filtro. “A empresa até pode fornecer uma água boa, mas também vai passar pelo encanamento do prédio. Eu sou um cara bem preocupado com essas coisas da saúde”, justifica.

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